sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sobre a duplicidade do ser



Faz dias eu estou com uma frase na cabeça, pronta pra começar a escrever mas sempre tem algo mais prático, ou mesmo mais inútil ( como atualizar o meu status no facebook) a ser feito. Hoje, no entanto, vindo para o trabalho na van, com a névoa, a chuva e o Within Temptation no mp4 no último volume, resolvi que era o dia perfeito pra minha frase, embora eu ainda não saiba, mesmo agora como ela continuará...


Eu sou duas. As Mayaras podem ser definidas pela maneira como se portam diante da ideia obsessiva embora sazonal do que querem que seja feito com seus restos mortais que, em última instância, serão um só. O problema é que não existe uma Mayara que seja mais verdadeira ou real, as duas coexistem e se alternam, irritando por vezes o marido e deixando confusos os colegas de trabalho e amigos: se por um lado, existe a Mayara extravagante, desinibida e irriquieta que já tem um pedacinho no cemitério e sonha em enchê-lo com muito granito preto, estátuas de anjos de bronze e um epitáfio pomposo, em outro habita a Mayara sensível, que guarda o que importa de verdade, é introspectiva, ligeiramente deprimida e quer com fervor doar seus órgãos e depois ser cremada. Embora não haja consenso sobre isso entre as duas Mayaras já que uma é vagamente espírita e a outra duvida por vezes da existência de Deus, o maior problema não é o que será feito no contexto post mortem - já que por certo não havendo nada ou indo para “Nosso Lar” isso provavelmente não será ponto de destaque - mas como a existência desses dois seres habitando o mesmo corpo afetam a vida do ser vivo chamado Mayara, uma única vez. O difícil de se ter duas personalidades distintas, além do relacionamento interpessoal com o qual uma Mayara muito se preocupa e a outra na verdade está se lixando, é mais essencial do que se poderia prever: Clarice Lispector disse, e os adolescentes no orkut e no twitter adoram repetir, que “quem se define se limita”, porém o oposto de definir, indefinir-se é muito mais trágico: imagine uma vida sem saber se prefere o silêncio ou a música, se quer ouvir Luan Santana ou Susan Boyle, se te convém morar na praia ou permaneceu onde nascer. É uma vida fadada à inquietação, condenada ao tédio e à infelicidade. Uma Mayara lida com essa perspectiva muito bem, porém a outra se revolta, já que quer mais dias de animação e alegria comum, comum a todos os mortais, menos às Mayaras, ou à uma Mayara. A única coisa com a qual as duas Mayaras parecem concordar é que o fato de serem uma dupla, na verdade faz com que sintam metade. E mesmo que o Oswaldo Montenegro ache bonito ser metade, e todas as pessoas gostem da letra e achem que estão justificadas, as duas Mayaras realmente queriam saber qual é a metade verdadeira, para que o“convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável”. E para que possam se prevenir e guardar o dinheiro para a cremação, se esse for o caso.

3 comentários:

Unknown disse...

Excelente pensamento sobre a dualidade do ser! =)
Ou de ser... nunca se sabe!
A parte legal é que uma dualidade é plenamente aceitável, embora de certa forma seja complicada para as as pessoas à sua volta. A coisa começa a complicar quando ao invés de "Eu, e eu mesmo", tem uma rave inteira lá dentro.
Mas enfim... essa dualidade é algo realmente necessário, porque muitas vezes, por mais que tenhamos incontáveis pessoas à nossa volta, acabamos nos confinando a viver apenas nós mesmos. Nessas horas, é bom ter um contraponto que analise o outro, que desafie, que tire sarro, que aconselhe, e que compare o eu com o eu mesmo. Acredito que isso nos torna mais vivos, e torna a vida mais fácil, já que mesmo sozinhos, sempre estaremos acompanhados daquela outra metade que tanto agrada e tanto desagrada! =)

Ministério disse...

Olá, blogueiro (a),

Salvar vidas por meio da palavra. Isso é possível.

Participe da Campanha Nacional de Doação de Órgãos. Divulgue a importância do ato de doar. Para ser doador de órgãos, basta conversar com sua família e deixar clara a sua vontade. Não é preciso deixar nada por escrito, em nenhum documento.

Acesse www.doevida.com.br e saiba mais.

Para obter material de divulgação, entre em contato com comunicacao@saude.gov.br

Atenciosamente,

Ministério da Saúde
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Anônimo disse...

Sede pois muitas! O que não gostar de uma vós, certamente se deixará cativar pela outra. Até o átomo, ímpar e rijo, se transforma quando de outros fica perto.