Hoje
só queria gritar verdades a plenos pulmões. São muitas as
certezas que se movem silenciosamente sob minha pele, e aos poucos
elas escapam pelos poros, tornando quando impossível meu contar. São
palavras que, se ditas, mudariam toda uma realidade: a minha.
A
primeira delas me tornaria oficialmente estagnada: eu não quero
fazer mestrado. Só de pensar na possibilidade de escrever um projeto
ou passar por outra entrevista me sinto suar. Eu sei que ganharia
mais dinheiro, que tenho toda capacidade intelectual, que seria um
desperdício de potencial e todo o blá blá blá. Mas eu só tenho me arrastado para fora da cama para passar por
mais um dia, e não consigo nem pensar em me penalizar com mais uma
obrigação.
A
segunda verdade me transformaria em um ET e faria com que as outras
pessoas me vissem como uma alienada: eu simplesmente, tirando uma
viagem sabática para o Peru, não tenho vontade de conhecer o mundo.
Eu gosto de viajar pela literatura, e nas aventuras dos outros, mas
quando penso em viajar por mim mesma, vem toda a dificuldade, a mala,
a saudade da minha cama, a obrigação de querer sair e ver coisas.
Não, obrigada.
A
terceira seria uma bomba nas minhas tentativas recentes de me
adequar: eu simplesmente não me interesso a mínima em estar magra.
Tenho muito mais prazer comendo uma coisa gostosa do que comprando
roupas um número menor, e desde que eu estou saudável, não consigo
me obrigar a me encaixar em um padrão normal, só isso.
Uma
outra verdade interessante: eu sei que a maioria das pessoas acha meu
marido chato. Tenho consciência de que ele tem uma personalidade não
muito expansiva e é cheio de vontades, mas ele é a pessoa que eu
escolhi para passar minha vida e, se for sincera comigo mesmo,
preciso admitir que eu já sabia tudo isso antes do casamento. É que
eu prefiro ele assim, e me amando como eu sou, e ficando em casa
quando eu quero do que ter me casado com o Sr. Perfeito e ter que ser
a Sra. Perfeita. Ele pode não ser expansivo, nem a alma da festa:
mas respeita quem eu sou, não repara nas minhas roupas a não ser
para elogiar, não exige que eu seja magra e muito menos faz questão
que eu vá ao salão de cabeleireiro. A diferença essencial na minha
opinião é que eu não sou uma esposa perfeita para exibir, sou a
mulher que ele escolheu para ser a companheira e a quem ele
essencialmente ama.
Mas
vocês sabem, palavras são muito definitivas, então eu não vou
afirmar nada disso com certeza, e vocês sempre podem fingir que não
leram.