Amadurecer
antes do tempo é perigoso e solitário. Se quando as árvores se
enchem de frutos pode-se encontrar crianças, centenas de passarinhos
e eventuais adultos menos tímidos disputando as pitangas, o risco
que se corre ao ficar vermelha sozinha é acabar na calçada,
amassada, cheia de formigas e inútil. Tem algo de melancólico em
passar por uma árvore e ver uma única fruta caída sozinha, como se
a sua missão não se tivesse realizado: não alimentou ninguém, não
virou perfume e, caída sobre o concreto, também não vai germinar,
como se sua breve existência não tivesse sentido, sem tocar nenhuma
coisa. E talvez esteja na essência da vida das pitangas: não ter
sentido.
Estranho
como um passeio de ônibus por um bairro arborizado faz a gente
pensar na vida. E ter medo.
"Se te contentas com os frutos ainda verdes,
toma-os, leva-os, quantos quiseres.
Se o que desejas, no entanto, são os mais saborosos,
maduros, bonitos e suculentos,
deverás ter paciência.
Senta-te sem ansiedades.
Acalma-te, ama, perdoa, renuncia, medita e guarda silêncio.
Aguarda.
Os frutos vão amadurecer."
toma-os, leva-os, quantos quiseres.
Se o que desejas, no entanto, são os mais saborosos,
maduros, bonitos e suculentos,
deverás ter paciência.
Senta-te sem ansiedades.
Acalma-te, ama, perdoa, renuncia, medita e guarda silêncio.
Aguarda.
Os frutos vão amadurecer."