terça-feira, 28 de setembro de 2010

Andei pensando sobre como grande parte da minha vida se resume a esperar ônibus.


   
   Sentada, observava todos os ônibus que chegavam e saiam sem saber de sua ansiedade. Quieta, estava alheia a multidão animada. O coração batia descompassadamente, ora muito rápido com frio na barriga, com a certeza de que aquele era o tão esperado ônibus, ora quase parando de bater com medo de que ele tivesse mudado de ideia e não viesse.
    As horas passavam lentamente, e ela naquela doce tortura, esperando aquele ônibus como quem espera a felicidade eterna, que chegaria com hora marcada. Esperou, esperou, esperou durante horas e quando estava cansada de esperar se regojizou com a ideia de que quando ele chegasse toda a aflição iria embora e ela ficaria finalmente em paz. Foi quando, olhando para mais um dos vários onibus que vira chegar e sair sem trazer-lhe a alegria tão desejada, viu-o, parado, sorrindo.
    Andou até ele quase mecanicamente. Sentia as pernas tremerem. Mãos geladas, a voz sumiu. Os olhos dos dois se encontraram e ela ficou como que hipnotizada. Os braços dele a envolveram e todas as dúvidas desapareceram: naquele momento, era ela a pessoa mais feliz do mundo. O calor voltou ao seu corpo e aos poucos la foi relaxando.
    Estava tranquila e sorridente: estava com ele outra vez.

Andei perdida na noite

   
   Ontem a Lua estava linda, brilhando forte. O céu claro e o frescor da noite após todo o calor do dia fizeram impossível para mim permanecer em casa. Levantei de mansinho após o amor e deixei você sonhando com dias melhores. Senti não poder acender um cigarro: isso me ajudaria a colocar em ordem os meus pensamentos, e me daria algo para fazer naqueles instantes de quietude, tão raros hoje os momentos que tenho para mim.

    A medida que fui caminhando por aí, deixei minha mente divagar e vieram a tona todos os sentimentos dos últimos dias, com os quais ainda não sei como lidar. É na noite que eu sou livre, e onde me sinto mais viva e não me é estranho o fato de só ali eu conseguir me mostrar como eu sou: quando todas as outras pessoas dormem e eu me encontro sozinha, não preciso ser nem a namorada, nem a amiga e nem nada do que esperam de mim o dia todo, e é então que sou mais feliz.

    Caminhei por toda a cidade e durante todo o passeio não te pude deixar sair do meu pensamento: mesmo sabendo que você provavelmente não passará outras noites perdido por aí, andando comigo, é bom saber que por um tempo eu tive alguém que me entendeu e de certa forma me acompanhou, nessa jornada sem fim que a vida me parece...

    De dia, eu não posso te conhecer e parece que não te reconheço atrás de tantos amigos, tantos sorrisos, tantas alegrias que me parecem tão falsas. É a noite que te encontro, mesmo quando você não está comigo, e lá descubro que nós talvez sejamos parte da mesma pessoa, pois não existem por aqui outras duas almas tão dispostas a procurar (ou fingir procurar) a felicidade e com tanta certeza de que nunca irão encontrar como nós dois.

   Quando finalmente voltei para casa, sem você para me mostrar o caminho dessa vez, deitei e dormi como as pedras e então foi você que eu encontrei nos meus sonhos: distante, sério, mas me olhando como sempre, como se soubesse exatamente tudo o que eu penso ou sinto...
    Não pude escolher dessa vez trocar o rumo dos meus pensamentos, afinal, é na noite que eu sou livre.

Ando relendo meus textos de adolescente

Pra cada palhaço, um circo.


   Mas o circo perdeu o glamour, e o palhaço anda sem graça, sorrindo sem querer e sufocando a vontade de chorar.
   Eu fico em maior desvantagem ainda no picadeiro: nunca fui boa em física e sempre choro de rir: alegria-dor-alegria-dor, tudo junto. Quisera eu saber colocar pra fora tudo o que eu sinto e nem um milagre seria suficiente pra o conter.
   Nada mais é glamouroso hoje em dia, os palhaços usam tanta maquiagem é pra esconder a dor e a contorcionista faz tempo só se apresenta drogada que é pra não sentir seu corpo, não sentir nada. Quanto placebo! Milagres são o meu, cada um escolhe algo. 
    Eu não acredito em nada, mas estou tentando desesperadamente acreditar pra ver se encontro um porque continuar me apresentando, afinal de contas a arquibancada tá quase vazia, mas ainda tem algumas pessoas com tomates na mão, e outras esperando a hora pra levantar e aplaudir o ridículo espetáculo da minha vida.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ando ouvindo muito "Eleanor Rigby" dos Beatles

"All the lonely people, where do they all come from?"



Eu sempre me identifiquei muito com Eleanor Rigby. Na adolescência, cheguei a me apropriar de seu nome como meu apelido, e cada dia que passa, me sinto mais e mais próxima desse codinome. Uma vez alguém muito querido me perguntou se eu iria ao seu enterro, pois tinha muito medo de morrer sozinho e ninguém ir ao enterro. Fiquei incomodada com isso, e em certos dias me dói - quem iria ao meu enterro? Quem me faria um memorial, ou falaria bem de mim? Eu sou por natureza solitária, embora me sinta sociável às vezes na maior parte do tempo eu preciso de solidão - dos meus livros, das músicas, do meu tempo, de me ouvir. Mesmo porque meu gostos, manias e gestos me afastam gradualmente da maioria das pessoas, e sempre foi assim. Será que em alguns anos vou me arrepender desse tipo de comportamento? Será que morrer sozinho é mais triste do que passar a vida inteira solitária - por escolha própria? Quem seria Eleanor Rigby? Será que houve escolha em toda a sua solidão?  A que lugar pertencem as pessoas sozinhas -  a algum lado obscuro da sociedade, ou será que no fundo estamos todos sozinhos? Será que nós nos preocupamos com alguma solidão além da nossa própria?

Lendo um artigo do Daily Mail sobre Eleanor Rigby, achei um parágrafo com o qual me identifiquei imediatamente e não vou explicar o porque, acho que pra quem me conhece é bem óbvio: 

"But as the years went by and her schoolfriends married and started families of their own, Eleanor's existence became more solitary, and she was forced to eke out a living by helping her mother, a laundress."

Eu sempre tive medo de morrer solteirona e sem filhos, mesmo que eu na verdade não os queira ter: talvez seja vaidade da minha parte, mas é difícil pensar que a única coisa que sobraria da pessoa que eu sou, em cem anos, seria um nome e uma data em uma lápide, que provavelmente não causaria sentimentos em ninguém. Eleanor Rigby foi eternizada, mas ninguém sabe de verdade quem ela foi: se sofreu, amou ou como viveu. A única certeza que se tem é que morreu sozinha - talvez da forma que todos nós morremos.

"So it seems that the only memories remaining of Eleanor Rigby are a few scraps of paper, an old, long-forgotten school textbook, and an iconic gravestone."

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tenho pensado em flores mortas.



    Tenho pensado em flores mortas. Por que será que elas são tão recorrentes na literatura e na música? O que significa dar flores mortas a alguém?É exatamente o que vem me incomodando: devo ser algum tipo de recorde mundial em ganhar flores mortas, de ex-namorados, amores platônicos ou amigos de sangue.

    Acho que flores representam tudo o que há de delicado, bonito e prazeroso no mundo, mas ao mesmo tempo trazem implícita a ideia da efemeridade das coisas: de uma orquídea você cuida o ano todo para ver florir uma única vez. Talvez por isso essa obsessão com a morte delas: nos faz lembrar de como nós, seres humanos, podemos ser bonitos e frágeis.

    Flores mortas não perdem a sua beleza, ao contrário, ela possuem algo característico: mesmo perdendo pétalas e desfalecendo, ainda conseguem encerrar em si perfume, e se não guardam a cor original preservam um tom amarelado que pode nos fazer lembrar de coisas passadas, de ventos e chuva de outros lugares.

    Elas me confundem também, pois mostram que mesmo o que é puro, simples e belo pode ser maculado, por uma tesoura, ou pelo tempo....


“Trouxe flores mortas pra ti
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda a pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir”

(Legião Urbana – A Tempestade)

“Parece até que é bruxaria
Flores mortas que eu dei à você
Flores mortas sob todas as portas
Você sumiu e ninguém sabe o porquê”

(A Trilha – Flores Mortas)


“Tenho a memória de tudo que existe
Tudo que é triste e alegre ou não
Eu guardo as flores mortas na sala
Eu faço sala pro tempo”

(Zeca Baleiro – Amargo)



“Ela nunca pareceu
Do tipo que manda flores mortas
Paraíso que escolheu
Muito vivo, mas só por trás das portas”
( Skank – Ela desapareceu)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Brincando de estilista!

      Passeando pela internet hoje eu descobri o site da LACA, e estou me divertindo muito! Nem todo mundo nasce com o dom da Nany, e pode desenhar e fazer as próprias roupas, mas aqui é você quem cria a sua, escolhendo o tecido, o modelo, e adicionando detalhes, amei! Acho legal a iniciativa de permitir ao comprador personalizar a roupa, principalmente porque na enorme maioria das vezes, é você quem tem que se adaptar às roupas de uma determinada marca (o que muito me enerva já que como eu sou gordinha dificilmente acho exatamente o que quero no tamanho que preciso, mas isso não vem ao caso agora). O inconveniente que eu vejo é o preço, salgado para os meus padrões, mas nada impede você de imprimir o modelo que criou e levar para uma costureira perto de você. Aposto que com o tecido e a confecção, você não gasta nem metade do valor!

Esse closet ai embaixo não é meu, mas dá pra vocês imaginarem o que dá pra criar :)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tenho navegado e me re-apaixonado pelo meu namorado

   Há tanto barulho no mundo, e ainda mais dentro de mim. Em oposição, o Júnior é silêncio e tranquilidade. Na minha caótica existência, é o oásis de segurança e conforto que me mantém sã, amarrada ao sossego do seu peito, e ao carinho das suas mãos leves no meu cabelo. Onde todos os meus relacionamentos me deram lágrimas exaltadas, cenas dramáticas e fogo, ele é o elemento apaziguador, que me faz querer mostrar o que de bom eu posso ser. Mais do que saber como tratar meu corpo, ele me permite sossegar a alma e acreditar... Acreditar em felicidade, compaixão, em ter alguém com quem dividir minhas horas mais sombrias.
   Meu amor por ele me faz sentir piegas e antiquada, dá vontade de nos trancar em um lugar só nosso e deixar todo o resto de fora - as dúvidas e medos, os ruídos e vozes que quando ele está longe insistem em dizem que eu nasci para o som e o caos.
   O Júnior sempre foi o navio em silêncio, deslizando pelas ondas turbulentas do mar que eu sou.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Andei lendo Darwin Awards – Os campeões da idiotice

“Se tudo mais falhar, a imortalidade sempre pode ser garantida graças a um erro espetacular”
John Kenneth Galbraith




Essa é a epígrafe do livro de Wendy Northcutt, criadora do www.darwinawards.com que eu estou lendo no momento. Sou uma pessoa que muito se maravilha diante da capacidade do ser humano, como nosso cérebro é complexo e faz coisas impressionantes, porém, sempre notei também que o que ser para o mal, também pode ser usado para o mal: se a capacidade de desenvolvimento do ser humano é infinita, também é infinta sua estupidez. Pensando assim, procuro sempre descobrir a que extremos podemos chegar, e acreditem, quando se trata de morrer de forma idiota o ser humano é extremamente capaz!
Vamos dar uma olhada em alguns casos?
 
PRÊMIO DARWIN: UM PULINHO LÁ FORA

12 de abril de 2004, Holanda

“ (…) Para impressionar os dois amigos que ele levava de carona [ um rapaz de 19 anos que dirigia numa via expressa a 32Km/h] ele pretendia correr ao do veículo, saltar para dentro de novo e continuar dirigindo, mas assim que seus pés tocaram no chão ele tombou e bateu de cabeça no asfalto. Morreu no dia seguinte.”



PRÊMIO DARWIN: AFOGADO NA PIA

26 de maio de 2004, Áustria

“ O zelador ficou surpreso ao avistar as pernas de um cadáver para fora da janela da cozinha de um dos apartamentos térreos. A polícia encontrou a cabeça do morto afundada na pia, que estava cheia de água quente.
Pelo visto o austríaco desempregado deve ter bebido e usado drogas antes de voltar para casa na noite anterior e resolveu entrar em casa pela janela. O basculante estava entreaberto, deixando espaço apenas para ele espremer o corpo até a cabeça chegar a altura da pia antes de ficar preso. Enquanto se debatia ele deve ter ligado a torneira de água quente.
O que ninguém entendeu foi por que ele não desligou a torneira, ou tirou a tampa do ralo, ou por que ele não entrou pela porta como todo mundo, já que suas chaves estavam em seu bolso”.



PRÊMIO DARWIN: PERDENDO A CABEÇA

3 de outubro de 2004, Romênia



Radu, de 67 anos não conseguia pregar o olho a noite por causa da barulheira feita por um único galo na vizinhança. (…) Até que uma noite decidiu que aquilo precisava terminar. Levantou da cama e saiu de cuecas mesmo para o quintal. Tonto de sono, Radu agarrou o maldito galo pelo pescoço e cortou fora sua cabeça. Só depois de consumado o ato ele se deu conta de que tinha agarrado o próprio pênis pela abertura da cueca ao invés do pescoço do animal. Enquanto ainda estava paralisado pelo choque, um cachorro que estava por perto aproveitou para agarrar o lanche inesperado e devorá-lo na hora”.