segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A arte de perder


Capa do livro  "A arte de perder", biografia de Elizabeth Bishop por Michael Sledge.
Eu descobri faz umas semanas esse poema da Elizabeth Bishop e estou absolutamente encantada. Para quem, como eu, não conhece a vida da autora, é um prazer dizer que ela morou no Brasil por 16 anos, sendo inclusive agraciada com um Ordem do Rio Branco. A vida de Elizabeth, na verdade, foi sempre sobre a arte de perder: perdeu pai, que se suicidou quando ela tinha 4 anos, perdeu a mãe, internada em hospício para a vida toda 8 anos depois, e perdeu Lota, a namorada brasileira que se suicidou anos depois...
Eu poderia explicar em mil linhas, como é perder as coisas, coisas que nos parecem importantes, coisas raras e também coisas banalíssimas, mas nunca conseguiria traduzir da mesma forma que esse poema:

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério."

O fato é que seja perder um amigo ou o guarda-chuva velho, e por mais banal que isso seja – nós vivemos nos perdendo e desencontrando, conseguimos algumas vezes, inclusive, perder a nós mesmos, nunca deixa de ser sério, não é?

2 comentários:

Patty disse...

Oi Mayara! Cheguei! Ufa, consegui internet! O que eu perdi? Poema? Adoro.
Perder não é nada sério, ela já perdeu tanto, que acha banal. É, acho que não dá para levar a vida tão a sério. Afinal, se uma perda acontece todos os dias e tão facilmente, não pode ser algo raro. Perdemos uma chance, um brinco, um minuto, um caminho, às vezes nada. Perdemos vida a cada minuto. Já nascemos perdendo. E nunca sabemos o que estamos ganhando. Talvez nada mesmo. Ou o equilíbrio perfeito seja esse: quanto mais se ganha, mais se perde.
Bjs.

Adelaide Araçai disse...

Sabe são as perdas que mais nos ensinam a valorizar aquilo que realmente temos. E a viver um dia de cada vez. Afinal não sabemos qual será o último.

Abraços