quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Andei lendo Walt Whitman

Você conhece Walt Whitman? Se sua primeira resposta for não, é melhor pensar mais um pouquinho: qualquer um que tenha assistido o maravilhoso filme "A sociedade dos poetas mortos" deve lembrar de "Oh Captain! My Captain", uma das elegias mais famosas do mundo. Eu recentemente encontrei um  exemplar de "Leaves of Grass" (Folhas de Relva) lá em casa, e estou me deliciando com a leitura. Aproveito para comentar que a maioria das traduções do Whitman para o português são deploráveis, inclusive a que eu estou lendo. Digitei um do meus favoritos, "A ti", de "Pássaros Migratórios" para vocês, espero que gostem tanto quanto eu. 
Clicando no velhinho simpático ai embaixo que não é o Gandalf mas bem que poderia ser, você lê um outro trecho, de América.


"Quem quer que sejas, temo que caminhes pelo
caminho dos sonhos.
Temo que estas supostas realidades estejam destinadas a
desvanecer-se embaixo de teus pés e tuas mãos,
Mesmo agora, teus traços, alegrias, palavras, casa, negócio,
maneiras, problemas, loucuras, roupas, delito,
dissipam-se de ti,
Teu corpo e alma verdadeiros aparecem para mim,
Abandonam os assuntos, o comércio, as lojas, o trabalho,
as fazendas, a roupa, a casa, a compra, a venda a comida,
a bebida, o sofrimento, a morte.


Quem quer que sejas, agora ponho minha mão sobre você, para
que sejas meu poema,
Te sussurro com meus lábios em seu ouvido,
Que tenho amado a muitas mulheres e homens, porém a ninguém
tanto como amo a ti.

Ah, eu tenho tido muito tempo estive mudo,
Eu deveria ter ido diretamente para você desde o início

Deveria ter falado somente de ti, deveria ter
cantado somente a ti.

Deixarei tudo para compor hinos a ti,
Ninguém nunca te entendeu, mas eu te entendo,
Ninguém nunca te fez justiça, nem você fez justiça a si mesmo,
Ninguém te achou senão imperfeito, eu sou o único que
em ti não vê imperfeições,
Todos quiseram te subordinar, eu sou o único que nunca
aceitará tua subordinação,
Eu sou o único que não coloca um domínio sobre ti, um dono, um
superior, Deus, além do que é esperado
de você intrinsecamente.

Pintores têm pintado fervilhantes grupos e da cabeça da figura
central de tudo,
Se desprende uma auréola de luz dourada,
Porém eu pinto miríades de cabeças, e não existe nenhuma
sem uma auréola de luz dourada.
De minha mão, faço emanar da cabeça de todos os homens
e mulheres, fulgurando e fluindo infinita.

Oh, poderia cantar tantas grandezas e glórias por ti!
Não sabendo o que era, você esteve dormindo
profundamente por toda tua vida,
Tuas pálpebras estiveram fechadas a maior parte do tempo,
Tuas ações te voltam agora com zombaria
(Tua frugalidade, teu conhecimento tuas orações, por que
voltam senão para zombar de ti?)

Tu não és a zombaria,
Dentro e sob elas te vejo à espreita,
Te busco até onde ninguém nunca te buscou
O silêncio, a escrivaninha, a expressão petulante, a noite, a
acostumada rotina, e tudo o mais que te oculta
de ti mesmo, não te oculta de mim,
O rosto barbeado, o olhar inseguro, a pele impura,
e o que engana aos demais, não enganam a mim,
A roupa atrevida, a atitude disforme, a embriagues, a
gula, a morte prematura, tudo isso deixo de lado.

Não existe qualidade no homem o na mulher que tu não possui,
Não há virtude nem beleza, no homem ou na mulher,
que não esteja em ti,
Nem valor ou resistência em outros, que não esteja em ti,
Nem prazer que espere aos outros, e que não esteja
à sua espera.

Quanto a mim, não dou nada a ninguém se não te dou
com o mesmo carinho.

Não entoo cânticos de louvor a ninguém, nem a Deus, sem
antes entoar os louvores de tua glória.

Quem quer que sejas, reivindica o que é teu sob qualquer risco,
Essas paisagens do Leste e do Oeste são maçantes se comparadas a ti,
Esses imensos prados, esses rios intermináveis, tu és
tão imenso e tão interminável como eles,
Essas fúrias, elementos, tormentas,movimento da
Natureza, agonia de dissolução aparentem tu és,
homem ou mulher, o senhor ou a senhora sobre ele,
Senhor ou senhora em teu próprio direito sobre a Natureza,
os elementos, a dor, a paixão, a dissolução.

Os grilhões caem de teus tornozelos, e descobres
umas suficiência inesgotável,
Velho ou jovem, macho ou fêmea, rude, baixo, rechaçado
pelos demais, proclames o que és,
Através do nascimento, da vida, da morte, do enterro, os
meios lhe são proporcionados, nada te falta,
Através das raiva, das perdas, da ambição, da ignorância,
do tédio, o que tu és abre caminho."

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