terça-feira, 1 de março de 2011

Será que existem laranjas iguais?

"Aqueles que andam pelo campo e vêem duas laranjas maduras e iguais, como podem saber que uma é boa e outra é ruim? Somente levando-as às boca?”
Em 2004, estudando pro vestibular da Unicamp, me deparei com o livro “As laranjas iguais”, de Oswaldo França Junior. A professora do terceiro ano sugeriu que o lêssemos e analisássemos e me lembro que tudo o que eu senti na época foi raiva: achei o livro chato, os contos incompreensíveis, e o exercício nulo, e isso porque já então era uma apaixonada por literatura, mas na época, era completamente apaixonada por Augusto dos Anjos. Pois bem, o tempo passou, e separando os meus livros para levar da casa da minha mãe para a minha, eis que eu reencontrei as laranjas iguais, e não é que elas agora fazem sentido?! E e eu tenho vontade de compartilhar com todo mundo a experiência que é ler o livro, fininho, que você lê em 30 minutos, mas talvez leve trinta anos para compreender, ou, no meu caso, sentir e aceitar. Sentir porque, como eu li essa semana em “O diário de uma paixão” (Nicholas Sparks), o que é poético e realmente belo na vida, não pode ser compreendido ou explicado, apenas vivido e sentido – daí a dificuldade de explicar poesia. Pois bem, vou deixar um conto do livro para vocês, e vocês me dizem o que sentem e se sentem alguma coisa, ou se, como eu nos meus primeiros anos, só sentiram que perderam tempo em um exercício inútil.
A justiça (p. 19)

DE UMA COLINA, onde se descortinava toda a cidade, dois homens mantinham silêncio olhando os dois corpos que balançavam lado a lado no patíbulo da praça. Um dos homens era o juiz mais sábio e justo de todo o país e o outro, um lenhador, seu amigo.
E o lenhador quebrou o silêncio:
-Senhor juiz, nunca houve uma sentença sua que eu não aceitasse como a suprema justiça. Mas, desculpe minha infinita ignorância, por que enviar à forca uma mulher que no julgamento perdoou ao frio assassino do filho? Qual a razão desta sentença, senhor juiz?
E o juiz grave, solene, respondeu:
-A justiça, meu amigo.
-Mas como justiça, meritíssimo? Essa mulher era uma santa. Perdoava a todos; até ao assassino do filho.
E o juiz, do fundo da sua sabedoria, disse:
-A esse crime ela não tinha o direito de dar o seu perdão.”

FRANÇA JR, Oswaldo. As laranjas iguais: contos. 2° Edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
 
Eu, no fundo da minha ignorância, resumo assim: “Certas coisas não merecem perdão, e quem o dá, merece ser castigado”.

7 comentários:

O rei da Lua disse...

Livros, livros livros e mais livros... hahaha
Sabe o que é engraçado?! Que mesmo q tem um tempinho q nao paramos pra conversar td vez q tenhoq ler um livro ou cismo de ler um livro eu me lembro de vc...
Eu li um no final do ano passado, te falei? Clube do Filme. Gostei mtu nao... Mas li... hehe...
Vou ver se pego habito de leitura ainda esse ano... aih eu leio esse, amore... haha

Bjãozão...

Adriana Alencar disse...

Acho que deve ser um livro extremamente interessante, mas não sei se concordo com o julgamento deste juiz... Se fosse assim, certas pessoas não teriam esperança em uma vida após a morte e toda a teoria eclesiástica cairia por terra. Alguns iriam ficar muito felizes com isso, mas a grande maioria poderia perder seu chão. De qualquer forma, fiquei muito curiosa para lê-lo, obrigada pela dica!
Beijo
Adri

Anônimo disse...

Nossa... Depois de pensar alguns minutos aqui, acho q entendi o juiz, tem coisas em nossas vidas q não podemos entender e desculpar. Olhar e pensar: isso nao foi certo, foi injusto, nao deixarei q façam isso comigo de novo é uma forma de não perdoar, sem significar guardar mágoa ou rancor, mas separar o certo do errado.

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Ah, com relação ao seu comentário, a situação q vc contou q aconteceu com vc qdo criança, tb aconteceu comigo, a minha sorte eh q ninguem viu, pois foi no finzinho da aula.. rs..

Obg pelo comentario! Me senti melhor depois de lê-lo. =*

Anônimo disse...

Interessante, deve ser sim..adorei o título. Confesso que li três vezes o texto, antes de entender e então vi o que vc escreveu...me deixou pensativa. Beijos

Sandro Brincher disse...

Gostei muito do teu blog. Acabei aqui buscando por alguma material de aula para “As laranjas iguais” em sala de aula [sou prof de Literatura]. Acho sempre lindo esse movimento de compartilhar impressões pessoais sobre leituras. Vou recomendar aos meus alunos. Há alguns [não muito, pra ser sincero] que sei que vão adorar.

Abraço.

Sandro Brincher disse...

Gostei muito do teu blog. Acabei aqui buscando por alguma material de aula para “As laranjas iguais” em sala de aula [sou prof de Literatura]. Acho sempre lindo esse movimento de compartilhar impressões pessoais sobre leituras. Vou recomendar aos meus alunos. Há alguns [não muitos, pra ser sincero] que sei que vão adorar.

Abraço.

Vinícius F.A. disse...

Jesus Cristo me mostrou o contrário, e veio para morrer no meu lugar para que eu fosse perdoado, ainda que não merecesse