domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sobre identidade cultural e outras besteiras

Casa no Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves
 Sempre tive a impressão de que nascer em um grupo com forte identidade cultural seria maravilhoso. Ao contrário de todas as outras pessoas que vêem as limitações e dramas aos quais eu me submeteria, e talvez por ser indecisa e insegura, acho que deve ser incrível nascer em uma sociedade onde se sabe exatamente o que se espera de você. Não ter que decidir, nem corresponder à expectativas não-ditas deve ser tão pacífico! Provavelmente eu me revoltaria, seria do contra e lutaria com as opções que me teriam sido pré-destinadas, eu sei, mas a verdade é que essa viagem ao Sul me fez pensar mais ainda no assunto: visitamos uma vinícola quase artesanal, que é propriedade da mesma família a quase duzentos anos, onde os trabalhadores e vendedores e guias turísticos são todos primos, irmãos ou parentes de alguma forma. Eu fiquei horas cismando sobre como todas aquelas lindas meninas tão brancas e loiras encaram o fato de já terem nascido com um futuro garantido. Não estou dizendo que elas obrigatoriamente terão que se render ao negócio da família, casar, ter filhos e trabalhar também na vinícola - mas me encanta a ideia de que ela podem, se for o que elas quiserem. Na verdade, sejam estrangeiros em um país estranho, judeus, pessoas de família tradicional, enfim, qualquer grupo com uma identidade definida, todos me encantam, a ideia de uma unidade, uma força que vem da coletividade me encanta. A minha tribo é minha família, e apesar de os amar e agradecer por todos ao meu lado, e mesmo sabendo que eles apoiam todas as minhas decisões - sejam pintar o cabelo de vermelho ou fazer um casamento à fantasia - ninguém me diz o que fazer: as decisões são minhas, assim como as consequências delas. Seria reconfortante, eu acho, ter alguém para culpar quando tudo dá errado, seja uma sina ou uma casa ancestral.

2 comentários:

AnaCristina disse...

eu gosto de ler seus textos! agora, vamo combiná....que casa é essa? arquitetonicamente falando!!!

Adelaide Araçai disse...

Confesso que me encanta ver, ler e ouvir isso, mas eu não serviria para viver desta forma...sempre me revoltei contra o sistema, contra tudo e contra todos. Fui a defensora das minorias que juntos eramos maioria (minha turma era de 65 adolescentes gays, lesbicas, drogados, putas) imagina quando decidiamos que iriamos "prestigiar" a festa de alguém na cidade... E o detalhe como as pessoas respeitavam o meu avô, tio, Pai e mãe eu nunca fui barrada mesmo sem ter sido convidada....agora imagina um ser assim numa sociedade destas...aff

Mas ao ler o final, vi exatamente o que minha filha faz, nas férias ela tinha combinado passar uma semana na casa de uma amiga e na hora "H" ela começou a me pedir para dizer se ela devia ou não ir.
Só olhei e disse:
- se você acha que não será legal, não vá! Ou vá e divirta-se! Não assumirei a responsabilidade por isso.
Ela não foi e 2 dias depois veio rindo, falando que se eu tivesse dito para ela não ir ela me obedeceria - mas sentiria como se eu tivesse tirado a chance dela se divertir...rsrs

Abraços