quarta-feira, 4 de julho de 2012

Venha! Que o que vem é Perfeição!...


 E então eu conheci a Sra. Perfeita. Ela é magra mas sempre acha que pode perder alguns quilinhos, fala tudo corretamente, tem uma história de vida triste mas dignificante. Enfrentou todos os desafios e faz questão de vencer sozinha, cumpre todos os compromissos sociais, nunca está desarrumada e sempre tem razão. Da crise na Ásia ao melhor restaurante da cidade ela sabe de tudo e pode te ajudar. Aliás, não há ninguém mais prestativo que a Sra. Perfeita: ela se oferece mesmo em situações que não a agradem ou nas quais ela não gostaria de se envolver, afinal, quem seria mais magnânima do que ela? No mundo da Perfeição, não existe cansaço, desânimo e nenhum defeito: estão todos sempre dispostos a um bar, uma viagem ou passeio inesperados. O Sr. Perfeito é boa praça, faz tudo o que ela quer e está sempre sorridente: no planeta Perfeição, não existem discussões nem desentendimentos. O sexo é incrível e abundante, a compreensão absoluta e amigos não faltam. Sem gastar muito dinheiro – afinal a mulher perfeita nunca seria consumista- , a Sra. Perfeita está sempre com unhas e cabelos perfeitos, e casa dela de tão organizada poderia ser matéria de revista de decoração. Você podem por quê gastar tanto tempo desfiando um rosário de qualidade de uma pessoa que obviamente não sou eu. Só queria contar que o problema em conviver com a Sra. Perfeita, é que, se você não for segura o suficiente, pode se deixar abater: afinal, ninguém consegue ser tão perfumada quanto ela, tão inteligente, tão magra, tão disposta, em outras palavras - tão perfeita. O que a gente não percebe no começo é que o respeito às convenções sociais - como visitar um colega doente - não é mais do que disfarce para o fato de que ela não liga a mínima para aqueles que estão ao se redor, todos são, na verdade, uma obrigação social. Além disso, depois de um tempo, você pode acabar descobrindo que a sapiência na verdade é insegurança com a própria capacidade intelectual, e beira a arrogância, afinal, se a Sra. Perfeita sabe tudo, o que qualquer outra pessoa no mundo saiba é irrelevante. Pensar que ninguém faz nada tão bem quanto a Sra. Perfeita me deixou cega, fez pensar que agir como sabe-tudo era competência, que ser magra era objetivo de vida, que o importante era ter dinheiro acima de tudo, mesmo que não fosse para gastar, mas para acumular “terras”, assim como fariam meus antepassados. Conviver com a Sra. Perfeita, no final das contas, me cegou por um tempo, mas agora eu gostaria muito de agradecê-la por me ajudar a ver o quão diferente disso tudo eu sou: não ligo para aparências além do necessário, gasto meu dinheiro todo com livros, tenho uma família que é minha rede de apoio, não guardo rancor e sempre dou a cara a tapa por pessoas que não merecem – e provavelmente darei de novo pela Sr.a Perfeita em algum momento do futuro, eu sei - , e estou muito aquém da perfeição. Se é que existe alguma coisa mais perfeita do que saber quem você é e estar confortável com isso.

4 comentários:

Betty Gaeta disse...

Oi Mayara,
Eu estou muito longe da perfeição, mas vivo tentando. Não por convenções sociais, mas por auto satisfação.
xoxo

Gosto disto!

Anônimo disse...

Hum...perfeição é algo muito chato...gente fascinante tem os seus defeitinhos...rsrs
Beijos

http://diariodasuu.blogspot.com

Patty disse...

Odeio a sra. Farsante, digo, Perfeita.

Patty disse...

E que infelicidade, ter que posar de perfeita o tempo todo.