terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ando ouvindo muito "Eleanor Rigby" dos Beatles

"All the lonely people, where do they all come from?"



Eu sempre me identifiquei muito com Eleanor Rigby. Na adolescência, cheguei a me apropriar de seu nome como meu apelido, e cada dia que passa, me sinto mais e mais próxima desse codinome. Uma vez alguém muito querido me perguntou se eu iria ao seu enterro, pois tinha muito medo de morrer sozinho e ninguém ir ao enterro. Fiquei incomodada com isso, e em certos dias me dói - quem iria ao meu enterro? Quem me faria um memorial, ou falaria bem de mim? Eu sou por natureza solitária, embora me sinta sociável às vezes na maior parte do tempo eu preciso de solidão - dos meus livros, das músicas, do meu tempo, de me ouvir. Mesmo porque meu gostos, manias e gestos me afastam gradualmente da maioria das pessoas, e sempre foi assim. Será que em alguns anos vou me arrepender desse tipo de comportamento? Será que morrer sozinho é mais triste do que passar a vida inteira solitária - por escolha própria? Quem seria Eleanor Rigby? Será que houve escolha em toda a sua solidão?  A que lugar pertencem as pessoas sozinhas -  a algum lado obscuro da sociedade, ou será que no fundo estamos todos sozinhos? Será que nós nos preocupamos com alguma solidão além da nossa própria?

Lendo um artigo do Daily Mail sobre Eleanor Rigby, achei um parágrafo com o qual me identifiquei imediatamente e não vou explicar o porque, acho que pra quem me conhece é bem óbvio: 

"But as the years went by and her schoolfriends married and started families of their own, Eleanor's existence became more solitary, and she was forced to eke out a living by helping her mother, a laundress."

Eu sempre tive medo de morrer solteirona e sem filhos, mesmo que eu na verdade não os queira ter: talvez seja vaidade da minha parte, mas é difícil pensar que a única coisa que sobraria da pessoa que eu sou, em cem anos, seria um nome e uma data em uma lápide, que provavelmente não causaria sentimentos em ninguém. Eleanor Rigby foi eternizada, mas ninguém sabe de verdade quem ela foi: se sofreu, amou ou como viveu. A única certeza que se tem é que morreu sozinha - talvez da forma que todos nós morremos.

"So it seems that the only memories remaining of Eleanor Rigby are a few scraps of paper, an old, long-forgotten school textbook, and an iconic gravestone."

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